O grande deserto branco
- Flora Simon
- 15 de set. de 2020
- 3 min de leitura
O grande deserto branco aparentava não ter habitantes em suas redondezas. Paredões de gelo se intercalavam com imensos lagos recheados de pequenos icebergs. Após sobrevoar uma montanha mais elevada, uma construção cinzenta e alongada pôde ser vista no horizonte. Mais alguns quilômetros de voo e o drone diminui a sua velocidade, se aproximando do trio de pesquisadores.
O mais alto dos três estava subindo até o topo da antena. A única mulher do trio sorri ao avistar o drone, e dá uma espanada na tela do tablet para retirar o excesso de neve acumulada. O mais jovem, um pouco distante da estação de monitoramento, trocava o olhar da estação para o caminho que eles tinham vindo.
- Não é melhor fazer isso outro dia? – pergunta, esfregando as mãos.
- Marcel, tem que ser hoje, nós precisamos do equipamento funcionando o quanto antes – responde a mulher. Ela aperta o botão do tablet para direcionar o drone e posiciona-lo acima do primeiro pesquisador.
Ele, já no topo, começa a mexer na antena segundo as orientações dela. O vento havia
aumentado, fazendo com que ela tivesse que elevar a voz. Marcel observa as estacas que eles pregaram no solo para marcar o caminho, quando vê que algumas delas começam a cair.
- Elisa, eu já volto, as estacas estão se soltando, podemos nos perder na volta! – grita ele, e sai correndo até sumir na nevasca.
Ela continua fixa no tablet para estabilizar o drone em meio à ventania.
- Jorge, só um pouco mais para a direita! – grita.
Ele imediatamente segue a ordem, movimentando a antena lentamente. Ao ouvir uma comemoração, para de mexer e se vira para Elisa, que faz o sinal de afirmativo. Com muita calma, Jorge desce da escada em direção à parceira, enquanto ela finaliza o pouso do drone.
- Ufa, que bom que conseguimos, e ainda sem nenhum dano! – fala.
- Sim, achei por um momento que não seria possível, estava difícil de operar – completa ela, guardando o drone na mochila e se ajeitando para começar a caminhar – Marcel, va...?
Ela para e começa a olhar para os lados. Jorge se junta a ela e anda alguns passos para a frente, chamando pelo colega. Os dois fazem algumas tentativas, mas sem retorno. Elisa faz alguns gestos para Jorge, apontando para a direita, onde se encontram algumas estacas de marcação.
Ambos ajeitam suas mochilas, apertando-as mais rentes ao corpo, e começam a caminhar. Após alguns metros de avanço, Jorge aponta para algumas pegadas visíveis na neve. Os dois apressam o passo, mas a densa camada de gelo os impede de correr. Após cobrirem mais alguns metros, eles enxergam um vulto. Marcel estava lá, com a perna direita enterrada na neve.
Jorge, com suas compridas pernas, chega primeiro. Ele finca as botas no chão e enrola os seus braços embaixo das axilas de Marcel. Logo Elisa chega para ajudar. Com o esforço dos três, Marcel empurrando a outra perna para baixo, eles conseguem soltar o colega, caindo para trás no processo.
- Obrigado, pessoal! Fui atrás das estacas que saíram voando, mas não esperava por esta
armadilha de gelo – grita ele.
- Isso não importa agora, precisamos voltar pois já nos afastamos muito da tri... - começa Jorge, sendo interrompido por um tremor na superfície.
Com esforço, os colegas se levantam e se apoiam um nos outros, buscando a origem da
instabilidade. Neste momento, a geleira em que eles se encontram começa a apresentar
fissuras, e o gelo coberto pela camada superficial de neve começa a rachar.
Elisa faz um sinal com as mãos, apontando para onde eles vieram. Os pesquisadores correm na maior velocidade possível, sem olhar para trás. Um barulho ainda maior indica a rachadura completa da geleira, levando embora o pedaço onde eles estavam há poucos segundos atrás.
Após mais alguns minutos, eles param para respirar e olham na direção do incidente. Marcel se joga no chão e coloca as mãos na cabeça, Jorge segue de pé com os olhos fixos no espaço vazio. Elisa atira sua touca no chão e dá um grito.
- Não consigo acreditar!! Pedaços de geleiras se partindo, aqui? Elas já chegaram... – completa, e se joga no chão ao lado de Marcel.
Os três ficam parados, estáticos, ouvindo o som forte do vento no gelado ar antártico.







No grande deserto branco, pela primeira vez me vi lá, onde estão acontecendo coisas que só ouço pelo noticiário, sobre o aquecimento global. Torna tudo mais premente. Parabéns!
Na ameaça invisível fiquei impressionada como a escritora colocou várias histórias densas em poucas palavras.
Na videoconferência fiquei torcendo por algo sobrenatural! Quem sabe numa próxima história?
A história da formiguinha me bateu bem, por estar justamente na wibe "pq só eu faço esse tipo de erro?". Olho ao redor e todos parecem tão mais capazes...
Resolvi ficar de patinhas pro ar e ler os outros contos.;)
E agora, José? Hehehe
Muito bom!!